24 de jun. de 2009

Taça - Parque Estadual de Vila Velha - Paraná



A formação de Vila Velha Itacueretaba, antigo nome do que conhecemos hoje por Vila Velha, significa aproximadamente "A cidade extinta de pedra". Localizada a margem direita do rio Tibagi (o rio do pouso) na vasta e ondulada ibeteba (planície) que Saint Hilarie, maravilhado, disse ser o paraíso do Brasil. Este recanto tinha sido escolhido pelos primitivos habitantes para ser Abaretama (terra dos homens), onde esconderiam o Itainhareru, o precioso tesouro. Tendo a proteção de Tupã, era cuidadosamente vigiado por uma legião de Apiabas (varões), que eram escolhidos entre os homens de todas as tribos, treinados para desempenhar a honrosa missão. Os Apiabas tinham todas as regalias e distinções e desfrutavam de uma vida régia. Era-lhes, porém, vedado o contato com as mulheres, mesmo que fossem de suas próprias tribos. A tradição dizia que as mulheres, estando de posse do segredo do Abaretama, o revelariam aos quatro ventos e, chegada a notícia aos ouvidos do inimigo de seu povo, estes tomariam o tesouro para si. Por justiça, Tupã, o onipotente, deixaria de resguardar o seu povo e lançaria sobre eles as maiores desgraças se o tesouro fosse perdido. Os Apiabas eram fortes, altivos e bravos; o seu único trabalho consistia em realizar jardins na terra daquelas planícies. Tupã não permitia que, naquele recanto sagrado, houvesse o pecado. Numa certa época, Dhui ( em nossa língua corresponde a Luís) fora escolhido para chefe supremo dos bravos guerreiros. Como todos os outros, tinha sido preparado, desde a mais tenra infância, para essa sagrada missão. Dhui, entretanto, não desejava seguir aquele destino, celibatário. Seu sangue achava-se perturbado pelo feminil fascínio (era um chunharapixara - mulherengo). As tribos rivais ao terem conhecimento da notícia, de pronto resolveram aproveitar-se da situação e escolheram entre uma de suas donzelas a que deveria ir tentar o jovem guerreiro e tomar-lhe o coração para arrebatar-lhe o segredo. A escolhida foi Aracê Poranga (Aurora Bonita). Não lhe foi difícil conseguir a atenção do ardoroso Dhui e, pouco a pouco, ia entrelaçando-se a sua habilidosa teia, de tal modo que ele ficou completamente apaixonado e subjugado a seus pés. Ela já havia entrado no Abaretama com o consentimento de Dhui, que não teve como resistir-lhe ao desejo. Mas Aracê era mulher e Dhui homem. Traiu seus parentes em nome do amor, como ele traiu a sua missão em nome dela. Numa tarde primaveril, quando os Ipês (árvores de casca) já florescidos deixavam cair suas flores douradas numa chuva de ouro, Aracê veio ao encontro de Dhui trazendo uma taça de Uirucuri, o licor dos butiás, para embebedá-lo; mas o amor já dominava sua razão e ela também tomou o licor e ficaram quedados a sombra do Ipê; langüidamente entrelaçados. Tupã vingou-se desencadeando um terremoto que abalou toda a planície. A fúria divina convulsionou-se dentro do solo e a região foi destruída, trazendo morte e dor. A Abaretama completamente destruída tornou-se pedra, o tesouro aurífero fundiu-se e liquidificou-se, e os dois amantes castigados ficaram um ao lado do outro petrificados. Ao seu lado ficou a causa de sua desgraça, a taça de pedra ... E, quando ali se passa ainda se pode ouvir o vento repetindo a última frase de Aracê: Xê pocê ô quê (dormirei contigo). E assim Abaretama tornou-se Itacueretaba. A terra se fendeu: são as grutas que encontramos próximas a Vila Velha e o tesouro fundido é aquela lagoa que chamamos de Lagoa Dourada, a qual quando o sol lhe bate em cheio, ainda reflete o brilho aurífero. Dhui e Aracê, equivalente indígena de Adão e Eva, estão ainda hoje lado a lado circundados de Ipês descendentes daqueles que assistiram a morte dos dois. E os sobreviventes daquele povo partiram para outras terras onde a maldição de Tupã não os alcançasse. Fundaram outro império, nessas terras imensas da América do Sul.

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